digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, setembro 25, 2007

A volta do tempo

Por que não me haveria de importar com o tamanho da Lua? Por que hei-de pensar que o Tejo é um rio tranquilo?
Faço perguntas para o ar para ver se Deus ou um espírito me responde. Letras pequeninas por uma boca grande. Na cadeira do repouso fazem-se as conjecturas adiadas. Há já muito tempo que as costas não se amanham no couro preto do balanço. É tempo. É tempo.
As costas estão suadas e a pele cola-se ao couro. Na cabeça vai um alvoroço que pouco importa o que o corpo sente. Já são estas horas e ainda nada está decidido. Esta vai ser mais uma noite de sono profundo. Sono talvez justo e só a máxima culpa, ainda que despropositada e injustificada, o fará injusto.
É tempo. É tempo. É tempo de quê? Lá fora as horas aproximam-se do Outono, e já é Outono. Os dias vão curtos e a Lua está imensa, quiçá plena. É tempo de fazer as contas da vida, porque deve-se pensar o caminho nos cruzamentos.
É tempo. Foi há muito tempo. O tempo é veloz e inclemente. Não conheço quem conheci. Quase não me importo. Quase inquietude. É tempo de aninhar as costas no espaldar de couro da cadeira de balanço. A minha vida não é a de outrora. Não me reconhecem.
Faço perguntas para o ar e espero que Deus me responda. Mas não oiço a voz ou estou demasiado cheio para ouvir. Há muita coisa cá dentro, muitos pensamentos, muitos vícios e defeitos. Estarei cheio para ouvir Deus? Faço perguntas para o ar... ao menos me respondesse um espírito. Estou demasiado cheio.
Faço perguntas sobre a vida e o tempo. Sobre o tempo todo. O tempo todo faço perguntas. Estou demasiado cheio para ouvir qualquer resposta que não venha da minha boca, da minha grande boca. Foi há muito tempo e o tempo, de então até hoje, passou depressa. Faço as mesmas perguntas muitas vezes, mas na minha cadeira de couro não sei a resposta, sou incapaz de a pensar.
Todos os ciclos se fecham. Só não se fecham as figuras abertas. Fechar-se é da natureza do círculo. O caminho de loge até hoje é tão comprido quanto o foi o do início até ao longe. Não sei o que pensar, por isso não sei respostas. Faço perguntas para o ar e Deus não me responde.
Não sou quem era nem conheço quem conheci. Há muito tempo havia outra pessoa. Havia duas: ela e aquele que era eu. Não sou o mesmo. Não me reconheço nem conheço quem conheci.

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