digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, junho 04, 2007

A viagem

Os olhos fundos são a passagem para o outro lado do universo. Não há coragem para os enfrentar nem jogo mais angustiante de sedução. Como evitá-los?
A noite avança como um comboio rápido. Insensível a todos os receios e à luz das carruagens. Um gesto brusco, muito brusto e brutal, pela negritude. O ruído do metal rolante e a ausência do silvo.
Na noite, na carruagem de luz amarela, lê-se o jornal e fuma-se um charuto. A noite é um pano negro do outro lado da janela suja. Os olhos encontram-se no espelho da abertura e desiludem-se na intranquilidade da noite.
Fora do comboio há uma paisagem. No cimo há céu. Dentro do compartimento só pensamentos e a orquestração da ferrovia. De olhos bem fechados contemplam-se os dias anteriores e a eternidade.
Na evocação do passageiro, os anjos cercam o seu corpo jacente. Os olhos fundos são a passagem para o outro lado do universo. Não há como voltar para trás nem tempo para despedidas. O momento é de ficar ali mesmo: a cinza do charuto caindo sob o jornal. O olhar fica perpétuo.

1 comentário:

moonlover disse...

Os olhos são o espelho da alma, dizem!
Eu gosto de olhar nos olhos de quem fala comigo;)