digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, maio 21, 2007

Subúrbio calado

Há um vazio na minha cabeça que é uma névoa de dor ou um nó de silêncio. O betão da parede está plano e liso, quase macio, como se o bater das ideias o tivesse polido e a luz dos dias o envernizasse. O cinzento dos dias é mais aborrecido do que o dos muros suburbanos e o tédio dos minutos não gera fontes de saber.
Na minha cabeça desejo degraus para uma açoteia ensolarada, mesmo que chova todos os dias e que de lá apenas se aviste um jardim triste com nespereiras. A minha boca fechada engana: nem sempre estou tão silencioso.
Nunca vi um pardal molhado a saltar nem pombos nos subúrbios. Nos dias difíceis vejo fios de telefone, folhas de árvore mudas e muros cinzentos em silêncio cúmplice e comprometido. Há um vazio na minha cabeça que é uma névoa de dor ou um nó de silêncio. Tenho uma metrópole calada a habitar-me no crânio.

1 comentário:

as velas ardem ate ao fim disse...

Saiu daqui com um nó na garganta por ler um texto intenso e cru.A realidae pode ser bem cinzenta.

bjinhos