Há um vazio na minha cabeça que é uma névoa de dor ou um nó de silêncio. O betão da parede está plano e liso, quase macio, como se o bater das ideias o tivesse polido e a luz dos dias o envernizasse. O cinzento dos dias é mais aborrecido do que o dos muros suburbanos e o tédio dos minutos não gera fontes de saber.
Na minha cabeça desejo degraus para uma açoteia ensolarada, mesmo que chova todos os dias e que de lá apenas se aviste um jardim triste com nespereiras. A minha boca fechada engana: nem sempre estou tão silencioso.
Nunca vi um pardal molhado a saltar nem pombos nos subúrbios. Nos dias difíceis vejo fios de telefone, folhas de árvore mudas e muros cinzentos em silêncio cúmplice e comprometido. Há um vazio na minha cabeça que é uma névoa de dor ou um nó de silêncio. Tenho uma metrópole calada a habitar-me no crânio.
1 comentário:
Saiu daqui com um nó na garganta por ler um texto intenso e cru.A realidae pode ser bem cinzenta.
bjinhos
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