digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, março 01, 2007

A maçã verde

O aroma das maçãs verdes é fresco. Mais fresco do que as maçãs verdes. Fresco como o Lisbon Hock! Lembrei-me do aroma verde das maçãs quando à minha volta havia mar e o sangue derramado. Cambaleava para contradizer o balanço do navio e das feridas fundas dos sabres-de-abordagem. A dor calou-se no peso dos minutos e com os estampilhos constantes dos mosquetes, pelo esvair perpétuo do sangue sem jorros e no desfalecimento lento dos heróis.
O aroma verde da maçã verde ficou a pairar sobre o mar, enquanto eu ficava preso num naufrágio. Os meus amores entardeceram bordando-se. Cada um sua rosa, cada um seu nome, todos de linho branco. Nos dias soalheiros, perto de Sintra, levava-lhes maçãs.
Os meus amores dão-me suspiros e fazem-me cruzinhas bordadas, porque tenho sepultura no mar. Aquele instante está no mesmo local, o sítio do meu fantasma. Lugar de imperturbável aroma a maçã verde. Momento fresco onde se brinda com Lisbon Hock.

Sem comentários: