digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, fevereiro 13, 2007

O sítio impossível

Não fui eu quem bebeu demasiado, mas a realidade que me minguou o corpo perante o álcool. Habito uma casa onde não partilho confidências, situada num bairro onde as intimidades não são as minhas e onde os gritos das pessoas me atravessam.
Não sou esta casa, apenas estou nela. Estou há uma eternidade à espera que se desfaça de mim, que me expulse. As gentes do prédio, da rua e do bairro são tão diferentes como venusianos. Por isso, embriago-me em todos os entardeceres para que, quando a luz fica parda, eu e todos os diferentes que aqui se intoxicam nos tornemos pardos e os nossos olhos tolerem este sítio medonho.
Não bebo demasiado, apenas medico-me contra a tristeza da vida para que a tolere. O relógio de pêndulo da sala ora está insuportavelmente activo, cansando com a sua batida, tanto certo como coxo, ora é totalmente mudo e inútil. Nas jarras estão adormecidamente mortas flores e as mesas estão cobertas por toalhas com nódoas de vinho que ninguém substitui. A casa não muda. Não troco com ela olhares nem palavras nem confidências. Ela nada me diz. É toda uma loucura donde quero sair, mas não me deixam.

Sem comentários: