Preciso duma sombra e dum rio. Preciso dum vento fresco, sem necessidade de grande bravura. Se houver uma nuvem grande que esconda a estrela mais próxima nem preciso do sopro.
Preciso duma sombra e dum rio, e de me estender e não pensar para poder pensar no que afinal importa. As minhas pernas habituaram-se por fim a caminhar e estão cansadas, estão no momento de desejar o caminho e o repouso, desejam chegar para pôr termo à jornada e sossegar para se lançarem mais vivas. Estão numa indecisão de vida. Pulsam como uma infecção.
Preciso duma sombra e dum rio. A gravidade talvez me derrube e faça recuperar estendido, tendo uma pedra como confidente e almofada. A frescura pode inspirar-me a caminhar mais decidido. Estou numa encruzilhada simbólica.
Se o rio aqui estivesse, mergulharia para quebrar a rotina e a calma estagnada da paisagem. Ao vir à margem teria terra seca pronta a juntar-se à minha pele e duma árvore haveriam de cair folhas para me cobrir a quase nudez.
Se ao menos tivesse uma miragem neste deserto de cidade... o Tejo é tão largo e as praças têm árvores são grossas e muito verdes. O vento é salgado, porque vem do mar. Se ao menos tivesse uma miragem neste deserto de cidade... Se o rio passasse aqui, mergulharia.
19 comentários:
Sempre quis viver perto do mar e nem por isso estou muito longe, mas mais perto estou de um rio, que é afluente do Tejo, o rio Judeu...é uma paz incrível, chegar a casa ao final do dia e poder ver as águas calmas e tranquilas daquele rio, saber que amanhã e depois vai lá estar...de manhã ver o reflexo do sol a crescer na água. É a minha miragem diária ;)
Que paisagem linda esta que a Gi apresenta..e sendo real...ainda bem que há pessoas a poder usufruir destas calmarias e miragens de paz nesta terra de loucos.
João, muito refrescante!
então num dia quente como o de hoje...
adorei, adorei, adorei cada palavra do mail e do comentário :)
É real sim e ainda se torna mais bonita, quando de tempos a tempos, somos contemplados com a visita de bandos de flamingos cor de rosinha. Eu moro no Seixal, essa bela localidade...(que apesar de algumas pessoas criticarem) é um sitio fantástico para se viver. Tungas! Esta foi para o JB!
o Seixal é uma terra de sonho... quem me dera acordar!...
Ah pois é! Um dia convido-te e não aceito negas, para um passeio de Falua, boa?
Seixal... ai Gi que bela marginal voçês têm quando a aproveitam.... Já tive uma amante do Seixal.
Caro amigo JB e outros que tais. Deixei de assinar como turco, acabei com o turkices e criei o fototurkice de titulo Carinho meu( sim é mariquice). http://fototurkice.blogspot.com/ Vai ver e não te chateies....Abraços
E agora a marginal foi toda remodelada, está linda, tem o caminho pedestre novinho em folha. Dia e noite andam e correm pessoas junto ao rio, passeiam os cães, as crianças, andam de bicicleta...agora a sério, vale a pena uma visita. Espero que a Câmara leia isto e me dê uma avença de bem dizer...ehehehehe!
Ah esta fotografia é fantástica!
Conheço fotografias parecidas de grandes autores.
Quando fôr grande quero fotografar assim.
Também preciso de um Tejo largo «deste jeito», e de algumas «miragens» ao jeito do sonho. Por isso, voltei a publicar hoje mais uma nesga deste Tejo...
é a alegria do suburbano, a marginal do Seixal!
Não fales do que não conheces, senão pareces aquelas pessoas que tu mais criticas...Oh! Alfacinha emprestado...
não sou alfacinha emprestado, sou alentejano emprestado! Sou alentejano e com muito orgulho! Nascido no Campo Grande!
Gi tens razão! morar no Seixal é um privilégio, tb moro perto e gostaria de encontrar uma casa ai mesmo com vista para o rio, bjs.
Para viver o rio Tejo como ele merece, nada melhor que ser um "commuter" da margem sul e apanhar o barco todos os dias... De preferência da Soflusa. A sério, é fantástico acabar o dia a fazer uma viagem de barco, embalado na ondulação e a observar o sol reflectido nas águas...
:-)
Que bonito, João... :) Gostei desse vento salgado e da 'conversa' aqui nos comentários sobre paisagens e rio :) Um beijo enorme.
Um espelho de sensibilidade e poesia reflectido nestas palavras tão sentidas!
Há ventos e correntes que nos impelem para a vida, tal como ela é e não como gostaríamos que ela fosse. E das tempestades e catástrofes resultam turbilhões de ideias, sonhos, desejos e vontades, que atormentam o espírito e agitam o corpo.
Mas tal como o rio, a vida segue o seu percurso natural, enfrentando os dias tristes e cinzentos, a febre do Sol, a palidez da Lua e as sucessivas Estações!
Vive bem!
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