digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, abril 02, 2006

Vou

Vou no ir e no voltar. Quero ir a todo lado e sei que nem todos os sítios me interessam.
Vim agora dum sítio onde me vejo ao espelho no rosto doutra pessoa. Tem outras mãos e outros olhos, como outra pessoa, mas sou eu. Como o reflexo num espelho. Aquele sou eu e deformado como um espelho, onde o esquerdo passa a direito e o direito ao inverso.
Vejo-me com as palavras que sobre mim escrevem. Sou Narciso e gosto de me ler pelos lábios de quem me beijou. Até sinto as minhas feridas no reflexo invertido da imagem.
É estranho. É muito estranho o mundo das palavras e dos sentimentos. O passado é um armazém muito grande onde estamos guardados. Por vezes é difícil saber onde estão as coisas, mas elas estão lá todas. É bom que estejam arrumadas.
Gosto de me ver nu e vestido no espelho que me puseram à frente. Não me importo que me vejam e que saibam quem sou. Eu próprio dispo-me à janela onde mostro todas as minhas palavras. Por que não haveriam de ler as escritas pela poetisa? Gosto de me ver porque sou vaidoso. Gosto de me ver porque conheço-me doutra forma.
Vou. Tenho mesmo de ir. Tenho de ir a muitos lados e a alguns quero voltar. Aquele vou e voltarei sempre, porque vale a pena ler as palavras. São limitadas, mas muito bem medidas.
Bendita sejas tu, musa da escrita, que pousaste no espelho que me reflecte!

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