Puro prazer

Hoje arranjei coragem e convidei a maior amiga para jantar. Não pôde. Fiquei feliz, porque não se zangou comigo.
Depois... depois senti-me muito pequenino e sozinho. É estranho senti-lo depois de ter tido a coragem de fazer o que achei mais acertado... mas na verdade fiquei a sentir-me muito pequenino e sozinho. Depois de não poder jantar com a minha melhor amiga convidei muitos amigos para jantar. Convidei-os à vez e nunca dizendo quantas negas tivera antes, nunca desnudando o número do lugar da escolha... até porque não houve número ou lugar de escolha. Se houvesse, só haveria um, o lugar da minha maior amiga.
Depois de tudo, quando me sentia pequenino e sozinho, fiquei sozinho. A Páscoa levou-me toda a gente e a conta bancária não me deixou sair com ninguém!... Senti-me tão pequenino e sozinho!... Não se tenha pena de mim, que sei enroscar-me quando preciso! Fiz petisco e abri garrafa catita. Brindei-me e brindei aos amigos. A todos os meus amigos. São muito bonitos os meus amigos e quando lhes faço um brinde estão todos presentes, arranjadinhos e sorridentes.
Depois... depois acendi um charuto... um cubano... um Montecristo número três... Que bem que me soube o vinho com o pitéu e bem que me soube com o tabaco! Senti-me pequenino a fazer nuvens de fumo entre golinhos de vinho. O vinho branco tinha uma cor bem amarela e uma sabor menos que fresco por ter sido fermentado em madeira... sabor a madeira... a madeira de carvalho... e o charuto aceso em folha de cedro incendiada com fósforo de pinho ligava-se à bebida como lábios num beijo.
Hoje durmo feliz, porque tive coragem de convidar a maior amiga para jantar. Que bem me soube o vinho branco fermentado em madeira e o bendito Montecristo número três!