Um dia pegaram-me na mão, com jeitinho, e com voz meiga disseram-me:
- «Descobri um lugar, o teu lugar, e vou levar-te até lá. Não digas nada, fecha os olhos, para que tenhas a surpresa de estar no teu jardim levado pela minha mão, sem a tua ajuda».
Andei um pouco puxado com delicadeza e macieza, depois desvendaram-me e soltei um espanto feliz de desilusão e alívio. Aquele lugar tão bonito não era o meu jardim.
Fiquei feliz pela beleza. Fiquei feliz pela surpresa. Fiquei feliz pelo meu segredo intacto. Fiquei triste por não ela, por não ter chegado ao meu jardim. Mas disse-lhe que sim, que era, para que ficasse feliz e inventei uma árvore preferida e estórias sem história como as que tenho no meu jardim. Mas o meu jardim não tem árvores de fruto, não é um pomar cheiroso. E em pouco tempo ela percebeu que aquele não era o meu jardim, mas um pomar bonito com fruta deliciosa e cores vistosas. O meu jardim é plano e este tem o Sol em fosquices tórridas. Ela perdoou-me ter-se enganado e deixou-me ter o meu segredo, porque julgava que a amava acima de todas as coisas, mais do que se ama alguém.
O meu jardim não tem árvores de fruta. Teve-as um dia, mas um vendaval arrancou-as. Delas só resta a sua sombra. É um lugar diferente, o meu jardim.
Ela tão doce tomou figos de todas as figueiras de que viu variedade e mesmo fora de época sentiu doces os gomos das laranjas. Ali havia maçãs, pêras, romãs, variados frutos do bosque e ameixas múltiplas. O pomar era uma festa de tudo quanto é doce na natureza. Ela julgava que a amava acima de todas as coisas, mais do que se ama alguém e que aquele seria o lugar de estar.
Nunca mais a vi. Eu não a amava.
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