digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, abril 06, 2006

Festa

O que não fiz contigo foi aquele passeio em que era suposto levar a merenda. Um cesto não muito grande e lá dentro todo um paraíso de prazeres e gulas. Coisas simples, mas eficazes, contra as fomes e as sedes. Mais uma sombra larga.
O ferro era para espetar na terra e nele encaixar o girassol protector. Sob ele e sobre o chão uma manta larga e grossa para que as ervas não bicassem as carnes. Já contra as formigas nada se pode prometer, pois os bichos são sábios e teimosos. Mas nesse passeio perfeito não haveriam de aparecer.
Desse cesto não muito grande sairia primeiro um jarro de limonada pouco doce e uma garrafa de água fresca. Depois sandes de viandas pouco salgadas, coisa simples e descomplicada para as bocas não terem apertos. De dentro do vime sairia sobretudo muita fruta. Colorida e bem cheirosa fruta. Depois de provar todos aqueles sabores e naquela temperança de calor ameno as bocas e os corpos iriam aproximar-se, as mãos procurar-se e procurar onde a carne e a pele ficam mais ébrias. Até tudo ser loucura, zonzura, prazer e sonho. Mais tarde fruta, água e limonada.
O que não fiz contigo foi aquele passeio em que era suposto levar a merenda e acabarmos os dois merendados na natureza. Foi pena. Fizemos outras coisas, não mais semples, não mais complicadas.

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