O Douro faz-se de escadinhas que não vão para o céu. As escadas fazem-se de xisto e de uvas. As escadas não vão a lado algum sem ser às uvas, sem ser ao topo das montanhas. E as uvas vão para as adegas.
As janelas do Douro dão para as uvas, que são doces e pequeninas... como devem ser as uvas de vinho. Têm muitos nomes... talvez uns cem, talvez mais. Não sei, entre brancas e tintas... tantas uvas!
O rio não é coisa mansa, mas agora está cordato. Não o deixem à solta, porque é agreste e pedregoso. Como as montanhas das escadinhas. Foi tudo, rio e terra, feito pelo homem. A pessoa do Douro é simpática e faz três vinhos notáveis: O Porto, o Douro e o Moscatel. Nascem todos na mesma concha de terra de xisto regada com as mesmas águas revoltas agora domesticadas... nas escadinhas que não vão para o céu.
São mais de cem as uvas e todas têm um nome, vêem-se das janelas nos dias quentes. Numa ponta e noutra do berço. Do Douro parte-se para o mundo e ganha-se fama e glória. Há tanta coisa nas garrafas daqueles vinhos e tantas estórias e história. Muitas mais que os degraus que vêm do rio não chegam ao céu e se fazem de xisto.
No Inverno há frio e a terra não guarda a água, dá-a toda ao Douro. Por isso faz-se ali vinho generoso. No Verão há calores e secura e nascem vinhos para matar a sede. A gente é doce e fácil como o Moscatel.
Mais difícil é subir aos montes e mais ainda deles descer carregado com as uvas. As escadas não vão ao céu, mas levam às uvas. As escadas não vão dar a lado algum sem ser ao topo da montanha e as uvas vão para a adega às costas dos homens fortes do Douro.
2 comentários:
Tu escreves tão bem que até dói. Há dores que sabem bem :)
Escadinhas para céu????o que tu queres sei eu....nuvens!!
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