digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, abril 06, 2006

Chove-me

Há uma coincidência agradável que me estranha e perturba. Penso que acontece não pelos melhores motivos, embora goste.
Agora cada vez que saio sem guarda-chuva chove-me. Pode não cair uma gota antes de pôr o pé na rua, mas mal o ponho começa a pingar e depois a chover. Mal entro onde quero para o choro celeste.
Isto tem acontecido todos os dias. Gosto da chuva e de andar sob as agulhas molhadas, mas desconfio que é de propósito. Acontece que pouca gente gosta, por isso penso que anda alguém a querer molhar-me por mal, embora eu goste de andar à chuva. Penso melhor quando ando à chuva.
A chuva afasta as pessoas e os seus pensamentos. O manto confuso de desabafos que paira como poeira precipita-se no chão arrastado pela água e por não haver gente à volta pensa-se melhor. Há menor telepatia, menor poluição telepática.
Há uma coincidência de chuva que gosto. Gosto, mas acho que não vem por bem, porque é perseguição. É bom andar à chuva. Não é nada aborrecido como escreveu Fernando Pessoa. As agulhas espicaçam a inteligência e a água faz medrar as ideias.

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