digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, dezembro 12, 2016

Navio imperfeito

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À janela como num espelho de Magritte, o tempo é irrelevante no lugar, quieto de província, onde o comboio já não passa. O pequeno viaduto com cheiro antigo é a preto e branco.
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A cidade abandonou-se e à noite é deserta como de dia. Os alcoólicos bebem e não se fazem perguntas. As ruas sem papéis, reconheço-me no espelho e não me conheço, como a solidão de Hopper.
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Há uma praia de Inverno, a sua areia cristalizada quebra-se sob os pés e até o mar é diferente.
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Sou de penumbra e névoa, cinzento e invisível, lusco-fusco de entardecer e madrugar. Sou revolução de sal e areia arremessada sem horas.
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Sou um navio imperfeito esperando uma maré.
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Aí, a poucos minutos da estação central.

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