digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, outubro 31, 2016

A menina do espelho

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Só o jardim me importa. Na verdade, há a casa, as passagens secretas para a infância, o vinho e noite e sua luz, os gatos desrespeitando as convenções, até a da gravidade, são-lhes relativas.
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Pelos espelhos passam os antepassados como nas pinturas, vigiando-se e prendendo-me e ao meu ânimo. Mas não há ácido desoxirribonucleico.
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Na casa não há nem pai nem mãe. Só coisas, algumas inagarráveis ainda que alcançáveis. Várias essências de gente e diferentes densidades.
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Abro as portas quando posso atravessar paredes, para normalidade dos outros ali espalhados em liberdade.
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Quando não fujo converso com gente de carne, espíritos e inexistências. Não sei se figuras são personagens dentro da cabeça, chego a duvidar que existo.
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Quando vou no avião sinto saudades do jardim. Quando venho no avião sinto saudades do jardim. Na verdade, da casa. Na verdade, sempre em casa.
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A menina da pintura vive dentro do espelho e no olhar tem a mansura da infância, quando a mãe mima e a avó dá o colo. Chego a pensar que sou e mo quisesse dizer.
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Se for, onde perdi? Para ter chegado sem caminho e não sair ou nunca deixar de voltar.
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Na casa não há nem pai nem mãe. No entanto sou e sendo-o sou aqui sou isto sou todos. Mas duvido que exista.

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