.
Só o jardim me importa. Na verdade, há a casa, as passagens
secretas para a infância, o vinho e noite e sua luz, os gatos desrespeitando as
convenções, até a da gravidade, são-lhes relativas.
.
Pelos espelhos passam os antepassados como nas pinturas, vigiando-se
e prendendo-me e ao meu ânimo. Mas não há ácido desoxirribonucleico.
.
Na casa não há nem pai nem mãe. Só coisas, algumas inagarráveis
ainda que alcançáveis. Várias essências de gente e diferentes densidades.
.
Abro as portas quando posso atravessar paredes, para
normalidade dos outros ali espalhados em liberdade.
.
Quando não fujo converso com gente de carne, espíritos e
inexistências. Não sei se figuras são personagens dentro da cabeça, chego a
duvidar que existo.
.
Quando vou no avião sinto saudades do jardim. Quando venho
no avião sinto saudades do jardim. Na verdade, da casa. Na verdade, sempre em
casa.
.
A menina da pintura vive dentro do espelho e no olhar tem a
mansura da infância, quando a mãe mima e a avó dá o colo. Chego a pensar que
sou e mo quisesse dizer.
.
Se for, onde perdi? Para ter chegado sem caminho e não sair
ou nunca deixar de voltar.
.
Na casa não há nem pai nem mãe. No entanto sou e sendo-o sou
aqui sou isto sou todos. Mas duvido que exista.
Sem comentários:
Enviar um comentário