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A fronteira é uma linha imaginária que por vezes é óbvia.
Uma canção pode ser cançonetismo farsola, soul de casa de passe, cólica ou ouro.
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À versão de Tim Maia faltam as bolas de espelhos, as luzes
coloridas do lusco-fusco, o chão de acrílico colorido que se acende a espaços,
meninas de tranca rechonchuda a transbordar da saia micro e travada de
pergamóide, perfume rasca e sapatos altos com plataformas, fingindo cristal ou de escarlate
envernizado; putas!
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Sandra de Sá é mais sóbria e sobra-lhe a falta de talento –
como é possível sobrar o nada?! Voz feia e potente e ausência de talento
interpretativo. Sem julgar orientação sexual – assunto que não arrelia – esta
versão aviva-me as lembranças dos bares de camionistas sem pila mas com mais
testosterona que uma equipa de rugby, onde fui levado por amigas curiosas ou um
pouco mais do que curiosas. O melaço transformado em calhau, um assassínio do
espírito da composição.
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Quando Caetano Veloso a ouviu enamorou-se. Descobriu que era
Sandra de Sá quem a cantava e encheu-se de desejo. Ao saber que o autor é
Peninha decidiu-se a gravá-la e pô-la no seu chou. Teve medo ao descobrir que
Tim Maia a adoptara – não percebo o que lhe intimida e agrada no músico
carioca…
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A versão de Peninha… dá pena!
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Caetano jogou as mãos à música e como Midas fez ouro.
A intoxicação de açúcar e banha de presunto – muito além de qualquer pudim –
torna-se em alta cozinha.
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