
Dois amigos estarolas não sabiam o que haviam de celebrar e marcaram jantar para casa de um deles para festejar coisa nenhuma. Manias de gente solteira já com idade para ter juízo. É o que dá estar-se solteiro quando os dígitos da idade mandam ter filhos. Na verdade um deles até tem três, mas naquele dia não tinha nenhum. Indagaram quais as amizades disponíveis para essa noite e prepararam festim de se lhe tirar o chapéu.
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Nuno chamava-se o anfitrião e Jorge o convidado co-cozinheiro. Compareceram à chamada três amigas cada uma mais bonita e inteligente do que a outra. Mas sem segundas intenções, que isto da amizade é coisa bonita e para o vinho não azedar entre amigos tem de haver respeito e tino. Só para esclarecer as coisa. Elas foram a Ana, a Inês e a Xana.
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Na verdade, já na tarde da véspera tinham andado em maquinações e apalavrado jantarada, pelo que havia já alguma coisa preparada. No dia anterior puseram-se à conversa sobre o que haveriam de cozinhar e acordaram num cabrito no forno. Assim o fizeram no dia das festividades. Trataram do anho com os preceitos e rituais que merece e enfiaram-no na mufla para que padecesse de sua sorte. Nisto o Nuno lembrou-se que não sabia o que dar de beber aos convivas. Jorge, mais prático, respondeu-lhe:
- Quando não sabes o que servir, serve espumante. Mas olha que tenho um que não é segunda opção! É primeira! Este não joga a suplente. Vais cair para o lado, é de beber e chorar por mais. Além disso vai lindamente com cabrito.
- Eu não sou muito de espumante, mas estou sem ideias. Traz lá isso, então.
A amizade de Nuno e Jorge é antiga e quando toca a partilhar e a confiar não há bilhar às três tabelas: vai-se directo ao assunto. Nuno condescendeu e mal sabia que teria de dar a mão à palmatória pela dúvida e pela surpresa que iria ter.
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- Quando não sabes o que servir, serve espumante. Mas olha que tenho um que não é segunda opção! É primeira! Este não joga a suplente. Vais cair para o lado, é de beber e chorar por mais. Além disso vai lindamente com cabrito.
- Eu não sou muito de espumante, mas estou sem ideias. Traz lá isso, então.
A amizade de Nuno e Jorge é antiga e quando toca a partilhar e a confiar não há bilhar às três tabelas: vai-se directo ao assunto. Nuno condescendeu e mal sabia que teria de dar a mão à palmatória pela dúvida e pela surpresa que iria ter.
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O jantar correu magnificamente. Foi um fausto e à luz das velas naquela sala com quadros e livros... Foi quase barroco. A Ana foi a primeira a render-se ao espumante. A Inês e a Xana desmaiaram quase em uníssono nos elogios. O Jorge já o conhecia, portanto não conta. O Nuno, porque é torcidinho, ficou calado para aborrecer o amigo até que soltou a língua para aplaudir surpreendido.
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Não é famoso nos jornais, mas é um campeão: Quinta de Soalheiro Super Reserva Bruto de 1999, feito apenas com uvas da casta alvarinho e com a segunda fermentação feita em garrafa. A casa faz destas avarias apenas em anos especiais. Depois da colheita de 1999 a data seguinte, que irá em breve debutar no mercado, é a de 2002.
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É quase onde o Minho se levanta para se encrespar numa montanha de verdes, que o separa de Trás-os-Montes e da Galiza, que vem ao mundo um vinho fino, digno de príncipes e princesas. Nasce em Melgaço, na sub-região dos Vinhos Verdes de Monção, numa quintinha com chão de granito e sem diminuitivo, mas ele é um superlativo de agradável e surpreendente. As uvas são todas da casta alvarinho. Tem bolha persistente e viva e ali há gosto a fruta e toque a mineral. É complexo e sofisticado... deixa-se beber com uma alegria incomum. Aguenta tudo, menos a sobremesa. Retrai-se no doce, porque lhe falta o açúcar. Ainda bem!
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Os amigos galhofaram a noite toda espantados com os dotes de mesa do Nuno e com as bolhinhas finas e brincalhonas do espumante de Vinho Verde, entre disparates e afirmações sérias sobre a vida. A amizade é uma conversa colorida.
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Esta estória narrei-a tal e qual ma contaram sem tirar nem pôr vírgula. Provei só o vinho por curiosidade, para saber do que me tinham contado. Falaram verdade. É um belo vinho.
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