digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, abril 10, 2015

Naquele dia não parei

.
Naquele dia não parei. O tempo passou depressa para a pressa que tinha e a fome ficou afónica e descontente.
.
Que cansaço! Que fome! Pensei desfalecendo duma e doutra coisa.
.
– O que fazer? Cozinhar na pressa sem força nem ânimo?... Quiçá adormecer perigosamente sobre a comida… ou deitar-me esperando que a fome adormecesse?
.
Quanto mais indeciso, mais cansado. O peso do corpo e o peso do dia sobre ele deitaram-me.
.
Aconteceu aquela estúpida e orgânica excitação que às vezes se cria na exaustão. Um esforço involuntário dum moribundo. E o estômago a despertar, como uma manifestação de gente farta protestando contra a ditadura militar.
.
Como um monótono sermão para acalmação, comecei a contar carneiros:
.
– Um carneiro, dois carneiros, três carneiros, quatro ensopados de borrego, cinco ensopados de borrego, seis ensopados de borrego…

Sem comentários: