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Naquele dia não parei. O tempo passou depressa para a pressa
que tinha e a fome ficou afónica e descontente.
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Que cansaço! Que fome! Pensei desfalecendo duma e doutra
coisa.
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– O que fazer? Cozinhar na pressa sem força nem ânimo?... Quiçá
adormecer perigosamente sobre a comida… ou deitar-me esperando que a fome
adormecesse?
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Quanto mais indeciso, mais cansado. O peso do corpo e o peso
do dia sobre ele deitaram-me.
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Aconteceu aquela estúpida e orgânica excitação que às vezes se
cria na exaustão. Um esforço involuntário dum moribundo. E o estômago a
despertar, como uma manifestação de gente farta protestando contra a ditadura
militar.
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Como um monótono sermão para acalmação, comecei a contar
carneiros:
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– Um carneiro, dois carneiros, três carneiros, quatro
ensopados de borrego, cinco ensopados de borrego, seis ensopados de borrego…
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