digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, abril 05, 2015

Fábrica de mim

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Sou uma fábrica de melancolia. Sou uma fábrica de tédio. Sou uma fábrica de quase apatia. Sou uma fábrica de quase indiferença. Sou uma fábrica alimentada nos seus resíduos. Tenho engenhos arrefecidos por lágrimas de suspiros secos e pelo vento de pensar depressa, que é não pensar. Pesam-me os olhos e peso-me, vontando-me de dormir ou vontando-me de ter querer de dormir. A gravidade do silêncio e o horror aos sons da alegria, rasgando com euforia o sossego fúnebre do desfalecimento reclamado. Se derretesse por dentro. Liquefeito e pastoso numa caixa amedrontante de abrir. Ser o sarcófago esvaziado, purgado da dor e desinfectado das vontades que não tenho, preventivamente. A casa negra e uma fresta, não-janela não-aberta, fora igual a dentro, ruído banal da fabricação. Ainda plantando árvores irei intoxicar ainda. A chuva-ácida meu-sangue, as chaminés meus-gritos, tudo que faz me sacia indejosamente. Não há lei que me proíba nem prejuízo que me feche. Tomara fizesse a coragem para ser cobarde e num alto-forno.

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