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Gosto do modo como a boca se enche quando digo:
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– O meu cão.
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O som que sinto ao dizê-lo – não o que se ouve nem o que se
ouve pensando – é como o abocanhar, dum cão, no vazio.
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– O meu cão.
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Mas o meu cão é delicado. Muito cuidadoso quando recebe um
presente de comer ou quando tenta aproveitar-se e roubar a comida que tenho na
mão, enquanto sorno no sofá frente à televisão.
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– O meu cão.
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O meu cão soa-me divertido, destravado, enlouquecido pelas
saudades.
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– Os ataques de felicidade do meu cão aborrecem-me e
cansam-me. É histérico! Numa alegria desvairada, corre a casa, é capaz de
chocar, apanha sapatos, passeia-os na boca, rabeia e corre e faz barulho. E cansa-me.
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Adoro o meu cão. Como aprecio a subtileza das felinas.
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Dizem-me:
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– É um cão, e os cães são assim.
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Pois.
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– O meu cão.
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Enche-me a boca de ternura.
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