digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

segunda-feira, fevereiro 02, 2015

Palavra boca

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– O que é para ti a vagina?
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– É uma palavra feia para designar beleza.
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– Qual palavra seria bonita?
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– Lábios… porque de lábios se trata.
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– Flor será piroso?
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– Lábios, lábios de beijar. Fonte de amor e loucura. Floresta de cem aromas.
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– Piroso!
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– É difícil…
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– É difícil…
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– É difícil, mas quase tudo é melhor do que vagina… o piroso fá-las rir ou deliciarem-se ou nem sequer quem saber.
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– E vagina?... Ligam se disser vagina?
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– …
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– Vagina?...
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– …
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– Vagina é correcto.
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– É, mas a palavra é feia. Vagina lembra nome de medicamento.
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– Como?
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– Tome uma vagina ao deitar – disse o médico. Percebes?
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– Ao deitar é bom!
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– É. E ao levantar também.
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– É sempre bom.
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– Vagina, disse o médico. É um bom remédio, prosseguiu o médico. Em jejum, ao almoço e ao deitar, sentenciou o doutor.
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– Que sorte!...
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– Ai! (suspirando)
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– Por que não vagina?
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– Porque é feio. Chamar algo de piroso será sempre melhor!
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– Porquê?
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– Porque na loucura, que mulher se importará que digam: vou beijar-te a flor, vou saciar a sede, linda flor…
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– E importar-se-á se disser «vagina»?
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– Penso que sim… mas se não se importar ela, importo-me eu.
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– Continuo se perceber por que te incomoda chamar vagina à vagina?
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– Vagina soa-me a fim duma festa murcha. A tristeza do depois ou, pior, a tristeza do amor mal feito ou, pior ainda, do inconseguimento.
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– …
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– …
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– E pénis não é também feio?
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– A palavra ou o «coiso»?
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– As duas.
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– Feio! Feio, feio…
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– E não te incomoda?
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– Nadinha, mas… Pénis é feio… e mais feio no depois. É ridículo. É feio e ridículo. Depois de descobrir o caminho e o Paraíso e lá chegar… o pénis sai duma vagina.
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– Que horror!
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– Acho que já percebeste…


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