digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, fevereiro 18, 2015

De Nascente a Poente

.
A casa não fica no mundo, fica no Verão e se chuva*, a chuva é em mim, trovoadas tão negras, mais negras do que as de água, belas como as de Rubens.
.
As janelas para a rua – que não tem luz que preste – têm as portadas fechadas. O Sol vê-se de Nascente a Poente.
.
Às vezes batem à porta. Quase não oiço, pairando em transe alguns palmos sobre a vida.
.
Há dois jardins. O árabe e o verde.
.
O árabe tem fresco, pomares de laranjeiras e muitas fruteiras. Azulejos e água sempre correndo. Ninhos pró amor, vinho e paredes de seda voantes, entre colunas e a toda à volta – casa seminua, de almofadas, lençóis e flores.
.
O outro tem árvores grandes. Umas dão sombra, outras são ciprestes e melancolias. Muita erva para deitar a preguiça e o tédio.
.
Só chove no verde. No outro, o frenesim do amor e o ânimo do vinho desconhecem outra coisa além da vida.
.
.
.
Nota*: utilizei propositadamente a palavra «chuva» em vez de «chove», que era incompetente.
.

Sem comentários: