digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, novembro 04, 2009

O seis é um número mágico















Houve um jantar de amigos que ficou conhecido pelo jantar dos «aahs», porque houve vários espantos nessa noite. Diria que houve assombrações à mesa! A matemática está em tudo, tal como a física. Por mais que se não queira, a força da gravidade existe. Por mais esclarecidos que sejam os cérebros e vanguardistas os pensamentos, as leis universais fazem-se sempre sentir nos corpos. Não há volta a dar.
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A sessão de transcendência fez-se em torno dum número mágico: o seis, que é um número natural e o primeiro número perfeito, visto que os seus divisores um, dois e três somados atingem o seu valor. A seguir entrou-se pela poesia adentro e encontrou-se um hexágono.
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Para que não haja confusão há que esclarecer conceitos: o hexágono é um polígono regular com seis lados e seis ângulos, cuja área se calcula através duma fórmula complicada e de difícil transcrição para alguém de formação em História. Todavia, e para que os leitores mais curiosos saibam o que é um hexágono, deixo o modo de desenho: traça-se uma recta e nela coloca-se um ponto que será o centro duma circunferência. Nos pontos de intersecção da recta com a circunferência traçam-se linhas curvas que irão interceptar a circunferência, em cima e em baixo. Desta forma obtém-se os diversos pontos de intersecção dos segmentos de recta que irão formar o polígono. Basta, então, apagar todos os riscos de estrutura e deixar estes últimos traços.
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Portanto, foi num dia cabalístico que decorreu o jantar que vos narro. Nesse dia, a Nês e o Turco entretiveram-se sabiamente na cozinha durante a tarde, inventando prazeres em carnes vermelhas, escolhida aprimoradamente e bem temperada. Embora com grandes cuidados e atenções, para que fossem prazenteiros os minutos, tudo decorreu sem cerimónia ou complicações.
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Para além dos dois anfitriões e de eu próprio, estavam ainda presentes o Alex, o Ares e o Nasser. À mesa. À mesa estávamos seis, é claro. Sobre a tábua estava Hexagon 2000, o vinho maior das Terras do Sado e grande obra do enólogo Domingos Soares Franco.
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Este tinto, que só se vende em garrafas magnum (litro e meio), é uma festa de tâmaras, chocolate preto, bagas silvestres e tabaco. É complexo, suave e extremamente guloso e desafiante. Os golos sucederam-se alternados com exclamações onomatopeicas de prazer e admiração. De vez em quando surgia um adjectivo, mas estávamos todos abazurdidos com aquela bebida feita de seis castas (touriga nacional, touriga franca, tinto cão, trincadeira, syrah e tannat) em seis diferentes parcelas de terreno. Forma de admiração distinta só a do Ares que foi preferindo banhar-se com o vinho.
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Encontrar o Hexagon 2000 já não vai ser muito fácil, mas muito em breve a José Maria da Fonseca vai pôr à venda o Hexagon 2001. Ainda não o provei, mas consta que vem mais poderoso. Todavia ainda sei onde existe e sei que Domingos Soares Franco não desilude, muito menos na obra maior.

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