digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

Público pedido de desculpas aos leitores e amigos - Eu todo nu

Nunca gostei de partilhar intimidades. Muito menos pela internet. Contudo, nos últimos dias, derivei, fruto de complicações várias da minha cabeça. No meu desvario meti-me aqui em confidências mais ou menos óbvias. Para quem não sabe, tenho uma depressão major e, por vezes, isto é tudo muito complicado. Nem todos sabem, porque muitos não me conhecem - só me lêem, vêm aqui de vez em quando ou ao engano (e depararam-se com este lindo cenário dos últimos dias) - ou, mesmo sendo amigos, desconhecem este meu facto.
Acontece-me, de vez em quando, ter crises. Nessas alturas tenho, em paralelo, momentos de «cegueira» e obstinação, de egoísmo e insensibilidade, de crueldade e frieza, de obsessão e raiva. Numa outra linha, mais pessoal, faço sofrer os grandes amigos, os que mais me têm ajudado, que me socorrem sempre que lhes peço, nomeadamente VR, IC, SC, AS e AS. Sofrem com o meu sofrimento, ao verem-me sofrer. Ajudam-me o melhor que sabem e podem.
Muitas vezes, talvez na maioria das vezes, não há qualquer razão para a cabeça disparatar. Quando os pirolitos andam bem, como qualquer pessoa «normal», uma adversidade é levada com calma, serenidade e com ânimo. Há épocas mais difíceis, como o final da Primavera e princípio do Verão, ou como, mais sério e grave, período pré-natalício e Natal, que para mim se prolonga até ao meu aniversário, no começo deste mês. Este ano, a baixa está a durar até mais Janeiro a frente. Tenho trabalhado. Sempre! Só no início da depressão, em 2001, e no momento mais fundo, no final de 2003 (quando fui parar ao hospital com uma intoxicação - nascer e morer são actos e momentos públicos, pelo que este também é), me vi forçado a interromper momentaneamente o labor. De resto, tenho amigos óptimos (além daqueles que acima mencionei), gosto do que faço e trabalho no local onde, até hoje, mais gostei de trabalhar. Como se vê, nem tenho razões para grandes tristezas... mas o cérebro tem mistérios (neuro-químicos) que a razão não atina.
Sei que este meu acto de exposição vai chocar algumas pessoas, nomeadamente amigos. Tenho essa consciência. Tenho consciência dos riscos que esta decisão pode acarretar. Porém, quero ajudar, com esta atitude, a dar a conhecer um pouco mais acerca desta doença. Para muitos é uma coisa de menino bem, de ocioso ou é algo de negligenciável. Não censuro, porque sei que não sabem, mas contradigo. Para muita gente, amigos incluídos, o depressivo queixa-se porque quer, sofre porque quer, não tem razão para se lamentar, para andar atormentado, bastando um sorriso para a vida correr melhor. Como se pode ler num comentário a um texto lá para trás, duma pessoa amiga, há muitos exemplos de pessoas com cancro que superaram a sua doença e sempre com sofriso e positivas e com bom ânimo. Pois aí é que está: a depressão é um «cancro» do ânimo. Ordenar a um depressivo que se anime é, mais ou menos, o mesmo que pedir a um coxo que ande sem apoios, ou que um engripado não tussa ou espirre. O problema é mesmo ter o ânimo estragado. A incompreensão dói. Paciência, é a vida. Ninguém disse que viver é fácil.
Se partilhei convosco momentos de insanidade, parece-me ser de justiça pedir desculpa por incómodos e sustos. Isto vai. Tem de ir. Cá estou eu todo nu... e marimbando-me (para o que pensem, mas não para vocês). Prometo continuar a tomar sempre a medicação e nunca toda duma vez.

Nota: Sou tóxico, mas não é por mal.

4 comentários:

Anónimo disse...

Lindo amigo!

Incógnita disse...

Passo por aqui há tanto tempo, e nunca tinha sequer suspeitado... Admiro-o por partilhar isto, colocando o seu nome por baixo. Eu nunca tive a coragem para me desfazer do anonimato no blog. E de facto, não se pede a alguém deprimido que se anime. Quando muito dá-se-lhe um ombro :) ou um gato. (a mim deram-me ambos em simultaneo...)

[A] disse...

'We're learning to live with somebody's depression And I don't want to live with somebody's depression We'll get by, I suppose It's a very modern world, but nobody's perfect'

João,acredite que também não é mesmo nada fácil para quem está ao seu lado; sei como é desesperante e o quão impotentes e desorientados nos sentimos; às tantas já se está tão deprimido quanto o outro, pelo que não se admire se as pessoas se forem afastando- passa a ser um exercício de puro altruísmo e poucos têm a força necessária. Tem de percebê-los. Voltarão.
De resto nunca tenha receio de mostrar a sua alma- honi soit qui mal y pense!


Um abraço.
Ana

João Barbosa disse...

28/5: :-) beijinho
.
Incógnita: ;-) beijinho
.
[A]: Eu sei :-), mas tenho chateado poucos e têm sido aqueles com quem se pode contar, por isso digo no texto que nem toda a gente sabia disto. beijinho