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Vida inspiração de morte. Frio de sono, linha recta de
pensamento visível entre o crânio e o cérebro, saudade das infundadas
declarações de amor, paixões instantâneas, sofreguidões e sofreres de adolescência.
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Quando se descobre que se envelheceu. Não pelo
agrisalhamento, pela distância das letras próximas ou retrato do espelho. Vendo
os outros e seus brilhos opacos. Consciencializando a vontade de viver adolescente.
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Velho, quando o desejo é inveja das inconsciências, quando
do nojo do feito – corações partidos, coração quebradiço, álcool e infidelidades
persistentes.
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Velho, quando se ouve a música que se ouviu,
persistentemente. Quando o cantor celebra sessenta anos, indiferente à sensibilidade
do idólatra.
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Velho, quando se bebe menos e os olhos pestanejam lentos, lentos
a desligarem-se num movimento cego. Velho na dor persistente, desvendo os
brilhantes, olhos-chamarizes. Velho na adolescência caduca.
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Velho, quando «Os verdes anos» perfuram o tronco e as mãos dedilhantes
apertam as vísceras dos sentires. Quando o choro é seco, quando um homem não
chora, chora escondido.
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Quando se acabaram os casamentos e os encontros são às portas das capelas mortuárias. Quando tanto faz.
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Quando tanto faz e se esconde a inveja da adolescência –
pior do que saudades, quando se ouve a música que se ouvia.
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