quinta-feira, novembro 05, 2009

Ouro do Douro










A Quinta do Vale Meão está em grande. Novamente, mas em maior. A colheita de 2004 encanta até às lágrimas. Quando o bebi só queria que o tempo parasse.
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Estava um frio tremendo na primeira vez que fui à Quinta do Vale Meão. Na verdade fazia ainda mais frio na segunda vez que fui à Quinta do Vale Meão. Estive duas vezes naquela quinta duriense do concelho de Vila Nova de Foz Côa e temo que se lá voltar esteja ainda mais frio do que nas vezes anteriores... a avaliar pela tendência.
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A propriedade é bonita sem deslumbramentos humanos ao nível dos olhos. A percepção muda quando se sobe ao cimo do monte Meão, que tem este nome por parecer-se com uma ilha, devido à inversão do sentido do rio Douro. Junto à casa há uma fileira de laranjeiras, que mal se viam na minha última visita. Estão a talvez cinco metros da casa, mas o Inverno fazia-se sentir e o neblina e a ameaça de neve tornavam-nas fantasmas.
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Nas duas visitas à Quinta do Vale Meão fiquei com a impressão de que as pessoas moldam o espaço à sua volta, nomeadamente as suas criações. A ideia nem é totalmente original: os enólogos traçam os perfis dos seus vinhos como os artistas das suas obras, os empresários moldam a postura das suas empresas, todos nós nos espelhamos nas nossas casas e nas cidades em que vivemos. Contudo, as horas à conversa com Luísa Nicolau de Almeida e os Franciscos Olazabal (pai e filho) transmitiram-me essa forte impressão, que o seu forte empenho e vontade de perfeição não são as únicas características a traduzirem-se nos vinhos. As impressões pessoais, quase místicas, e as sensações da alma também moldam as obras.
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Nem na primeira vez que fui à Quinta do Vale Meão cheguei por acaso. Fui levado pela fama dos vinhos daquela casa que começou a engarrafar com nome próprio em 1999 e, desde então, tem merecido grande reconhecimento. Porém, a colheita de 2004, lançada agora está a encantar mais e não passa um dia em que não me lembre dela. É um vinho bem complexo, mas também muito fácil de se beber, com boa fruta bem casada com madeira. É difícil resistir a abrir as garrafas, mas os pacientes também serão recompensados. Este vinho é um luxo!
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Tempo para um Vintage
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É Inverno e apetece brindar. É tempo de bolos requintados, de chocolate, de festas, de família e amigos. Para mim é o tempo em que mais gosto de abrir uma garrafa de Vintage.
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Já que neste número a Quinta do Vale Meão mereceu destaque, que siga páginas adentro. Muitas quintas durienses ainda vivem da venda do seu vinho às grandes casas produtoras de Vinho do Porto, embora possam ter a sua própria produção de Vinho do Douro. Esse não é o caso da Quinta do Vale Meão. Contudo, nem todos os anos faz Vinho do Porto, mas apenas quando a qualidade justifica a declaração de Vintage, o que aconteceu em 2004.
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Antigamente, os Vintage bebiam-se com idade, à moda inglesa. Porém, os hábitos mudam e o aumento do peso do mercado norte-americano, desejoso de consumir depressa, colocou novos desafios e alterações do gosto. Os produtores tiveram de evoluir, embora haja quem ainda faça Vintage para ser bebido apenas com idade. Os Vintage da Quinta do Vale Meão são vinhos que podem ser bebidos prontamente, embora tenham condições para evoluir em garrafa.
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O mano mais novo
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O Meandro é o mano mais novo do Quinta do Vale Meão. A distância face ao primogénito é grande, mas está longe de ser um vinhito. É o segundo vinho da casa e tomara muita gente tê-lo como o seu primeiro.
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O Meandro do vale Meão de 2004 é um vinho onde se encontra fruta bem casada com madeira, tal como o irmão maior, embora se diferencie no corpo e na complexidade.
Há uma saudável tradição duriense de regar as refeições com vinho, terminando todas com um cálice de Vinho do Porto. Sempre que fiquei na Quinta do Vale Meão, os repastos eram encantados com o vinho maior. Era um sonho tornado realidade Contudo, um houve em que Francisco Olazabal (pai) abriu uma garrafa de Meandro e longe de desiludir, espantou. Este vinho não envergonha a família e cumpre bem mais do que o dia-a-dia.
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Uma das grandes vantagens deste vinho é o seu preço, pois situa-se na faixa dos dez euros, ou pouco mais, onde se bate com alguns concorrentes de qualidade muitíssimo inferior.

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