quinta-feira, novembro 05, 2009

Coisas que maravilham

Há coisas que são masculinas e outras femininas! Tal como as há azuis, vermelhas, amarelas, verdes, roxas, laranjas, castanhas cinzentas, pretas e brancas, independentemente da cor palpável ou material que exibem. Isto não é mero exercício! É uma constatação obtida depois de matutar alguns instantes... uns três minutos.
.
Na minha profunda meditação sobre coisas comezinhas interroguei-me ainda – porque a largueza do tempo para filosofar assim o permitiu – sobre a fragilidade possível dentro da força bruta. O exemplo do raciocínio é válido para mais pensamentos, como a masculinidade do feminino ou a beleza existente da fúria dos gorilas. Mas, a minha interrogação sobre as contradições na realidade veio-me mesmo da fragilidade feminina que emana da força bruta e fria, que alguém mais ousado poderia classificar de masculina.
.
A meditação, contida nos tais três minutos de filosofar sistematicamente espontâneos, multiplicados por muitos momentos, já se vê, levou-me à poesia, não à lógica. Para que quem lê disponha dos mesmos dados de quem escreve, refiro que a questão surgiu-me ao provar um vinho branco duriense. No caso o Maritávora Branco Reserva de 2005.
.
Este é um vinho de encantos e de abismos escarpados, sempre afiado no paladar. Tem a classe duma aristocrata bem vivida e a identidade toda do berço onde nasceu. É todo equilíbrio, nota-se a fruta, a madeira e a mineralidade. A vinha donde vem é centenária e nela se encontram diversas castas, onde se destacam a côdega do larinho, rabigato e viosinho. Não é um vinho frágil, é um vinho delicado.
.
Muitos portugueses têm uma relação estranha com o vinho branco, apelidando-o de refresco, usando o substantivo vinho como se fosse um privilégio que reservam para o tinto. Muitas vezes reserva-se ao branco apenas uma função social à beira da piscina, de mero objecto de convívio. Pois este Maritávora Branco Reserva de 2005 é duma elegância, nobreza e carácter como poucos vinhos em Portugal.
.
.
.
Que bela é a juventude!.
.
A juventude é uma coisa bonita de se ver. Eu, por mim, via-me todos os dias ao espelho e exclamava bem alto frases de alegre existência não fosse o reflexo insistir em mentir-me. Não acredito na imagem que me vem, pois sinto-me bem mais jovem do que aquele homem que me surge quando me assomo do espelho. Quanto a mim não passo dos 16 anos! Nem mais!
.
Juro que não preciso de procurar muito para encontrar o mesmo número de borbulhas que tinha quando, realmente, o bilhete de identidade indicava 16 anos. Nunca fui vítima do acne. Graças a Deus! Porém, o nível de disparates produzidos pela minha cabeça continua em grande e o problema está em que continuo a meter-me em alhadas, por mais que a consciência diga para não o fazer.
.
É por isso uma grande alegria quando encontro parceria de folias. Felizmente para a sociedade e suas instituições respeitáveis (?) que não há muita gente chanfrada como eu. Nas minhas alegres euforias encontrei um belíssimo vinho jovem que rima com o meu estado de espírito e maneira de ser. O Maritávora Tinto de 2004 é um vinho para se beber jovem. É muito vivo e alegre, e sente-se muito a fruta vermelha. Todo ele é simpatia e agrado.
.
.
.
Para dois dedos de conversa
.
Sentei-me à conversa com um amigo que, por ser figura pública, estou proibido de escrever o nome. Ficámos horas à conversa, como sempre. Começámos por não dizer coisa de interesse, como sempre, e avançámos até aos temas mais profundos das almas, porque somos confessores um do outro.
.
A conversa não estava agendada, por isso não marcámos jantar. Ficámos por uma simples combinação:
- «Passo por tua casa mais logo para conversarmos».
.
Assim foi, passou ele por minha. Não havia tema pré-definido e porque, já se sabe, que somos os dois enófilos abrimos uma garrafa sem cerimónias: Lello 2004, tinto. Para acompanhar e fazer sala veio um Queijo Terrincho.
.
O Lello tinto de 2004 bebe-se com facilidade. Na boca notam-se frutos vermelhos e a presença de madeira. Foi bem com o queijo e com a conversa. Teria ido bem com um prato de massa ou com uns belos pastéis de bacalhau com arroz de tomate... a propósito, acho que já sei o que vou jantar hoje!

Sem comentários:

Enviar um comentário