quarta-feira, novembro 04, 2009

Os mistérios da minha vida





















A vida tem mistérios. Olha a novidade! Ao longo da vida vão surgindo novos mistérios, alguns nunca se irão desvendar. Pois, outra novidade (por este andar ainda sou convidado para coligir as grandes verdades do senhor de La Palice – embora curiosamente esse famoso senhor não dizia la-paliçadas, mas isso é outra história e muito longa, por sinal).
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Volto aos mistérios. Para mim sempre foram um mistério as aulas de piano. Nunca as percebi, e ainda hoje, tantos anos depois, me causam arrepios na espinha, dores nas costas e inflamações nas articulações das mãos. Por que tinha de repetir, sem fim, escalas, fazer exercícios medonhos se o que queria era mesmo conseguir tocar Charpentier e Erik Satie?
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Mais tarde, no liceu – já se dizia escola secundária, mas gosto mais de liceu – o mistério rimava com química, física e, sobretudo, matemática. Queria seguir belas artes, mais inclinado para a pintura, ponderava design e duvidava que fosse para escultura. Não percebia por que haveria de fazer experiências com tubos de ensaio e balões para um dia ser competente a pintar e a desenhar. Percebia ainda menos por que tinha mais horas de química do que de artes. Já a física aparentava ser uma charada de mau gosto. A matemática, então, era uma cadeira onde eu praticava o desconstrutivismo na aprendizagem.
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Essas cadeiras revoltavam-me e a minha vida definhava: ainda lutei, mas depressa percebi que as guerras ou se ganham ou se perdem e que para alguém ganhar outro tem de perder. Aprendi também que quando a dor é maior que a força o melhor é fugir do que acabar partido – leia-se a repetir enfadado e estupidificado as mesmas cadeiras até ao dia do juízo final.
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Quando desisti da minha brilhante carreira nas artes percebi que a minha vocação era a história. Mais tarde, outro mistério, percebi que não era e acabei o curso com uma média sofrível.
Recentemente tive outro mistério, este bem mais agradável. A coisa passou-se numa acção (curso) da Academia do Gosto nas instalações da José Maria da Fonseca, em Azeitão. Para a mesa veio um prato com queijos (Brie, Roquefort e Azeitão) e três vinhos. O objectivo era a de casar (obter a melhor combinação) de cada queijo com um vinho. Apontei o Azeitão para o Alambre, mas o formador não gostou da dica. Contestei e impliquei: fica melhor ainda com o Alambre 20 anos! É que gostei mesmo do esplendor deste Moscatel de Setúbal com o queijo conterrâneo!... Pois, é: cada boca tem o seu mistério.

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