digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

domingo, janeiro 29, 2017

O gato fantasma

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Mãe, crescer é estúpido. Para que se vai quando se pode ficar?
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Esta madrugada olhei-me ao espelho tal como quando era miúdo. Amadurecer é ter mais cara à volta dos olhos.
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Estavam verdes, às vezes e poucos souberam. Fiquei minutos vendo na pele a tristeza, esquecendo o bem – a ingratidão da minha memória.
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Fiquei sem pensar em mais nada do que os meus olhos verdes, reconhecendo-me finalmente, há tanto que não, e a pele. Foram minutos que não saem.
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Adormeci esquecido do dia da contemplação antecipada do fim. A mãe está mais feliz e todavia exausta.
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Acordei em vazio, sem noite nem manhã, só dor das cãibras.
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Lembrei-me e chorei por causa do gato invisível de Alzira e dos dentes todos que uma gaja roubou ao Francisco.
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Não foi por isso. Foi por ver a mãe. Envelhecer é ter olhos maiores do que a cara e cabelo desistente.
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Desejo-lhe brevidade, por lhe amor e por mim. Agora que está mais feliz vê-se-lhe a tristeza.
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Mãe, nunca lhe mostrarei as lágrimas nem tenho medo que morra.

sábado, janeiro 28, 2017

Champô para cabelos louros

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Sol é meio-dia Sul manhã Campo Branco retiro de mau-amor. No caminho, o perfume do champô que lhe imaginei, o verde molhado do lado de fora do expresso, igual ao anúncio e ao rótulo, o ramalhete que lhe queria e acobardei, a colecção das falas. Sabia-a perdida e de não haver pontes, só olhos azuis e cabelo louro. Não tinha nada para lhe dizer.
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Nota: Teria quinze ou dezasseis anos e fui a Castro Verde esquecer a Isa, que nunca esqueci nem voltei a por ela me apaixonar.

A esperança

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Nesses anos havia esperança. Não como a infância.
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O polegar e o indicador depois de apagarem um fósforo. Contemplando-os num dia ensolarado, numa traseira com quintal e gatos, sem tempo nem momento para o ter, num outro lugar e sem saber de música, que acrescentei depois, por nela em génese, agarrando-se à certeza.
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A esperança oculta-se depois da vitória e amarga no só.
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Por isso largar e, se não puder, omitir, basta-me a vergonha de perder.
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Fica fora da cidade e os gatos passam fantasmas.

sábado, janeiro 21, 2017

sexta-feira, janeiro 20, 2017

Saber-saboR

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Se te vais despir, poupa-me. Se te vais despir, gasta-me.

Pecar

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Guardado está o bocado para quem o há-de pecar.
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Nota: Admito que provavelmente alguém escreveu isto, mais ou menos assim. Mas surgiu-me na cabeça há uns dias.

O corpo vale mais do que mil imagens

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Seriam gloriosos os meus olhos. Tantos anos à espera e tiveste tempo para te despires. Não mo fizeste. Se não me pudeste e não te pude, podias fotografar-te. Tendo-te, tinha-te como te tenho agora, nua, sem estares nua.

A vida tal como ela sou

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Não vou fazer nada porque não posso fazer nada e por isso não faço nada e não espero que alguém faça por mim porque pode tanto quanto eu que é nada portanto fico quieto e espero que não me vejam. 

Fim de mandato

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Nota: Não tenho a certeza acerca da autoria da foto.

Vive um dia

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Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Disto. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Daquilo. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Deles. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De mim. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De tudo. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do que foi. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do para vir. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do que estava para vir. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do imprevisto. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do impensável. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do óbvio. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da inveja dos outros. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da minha inveja. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que o meu clube perca. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da política. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da estupidez. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De quem é mais inteligente do que eu. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De quem é mais estúpido do que eu. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Dos espertos. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser parvo. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser palhaço. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser palhacito. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser parvo. E se o já dissera ou venha a dizer, fica certo que disso estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da mentira. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da verdade. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da desonestidade. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da maldade. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Dos remorsos. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que me tenham perdoado. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De pensar. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que não me leiam. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que não me paguem. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que não entendam o que escrevo. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Da mediocridade. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser trocado por medíocres. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De pensar que provavelmente o merdoso sou eu. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De me enganar quanto ao talento. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De tentar que me reconheçam como poeta. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De tentar ser poeta. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De tudo ser culpa minha. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não ter sido pintor. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De saber que seria tudo igual. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não ter entrado em provas de natação. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De meter água em tudo. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De insistir. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De desistir. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De desistir de desistir. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Do silêncio. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que me gritem. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De gritar. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Que me ignorem. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser invisível. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não ser invisível. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser imortal. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não saber se estou morto. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De me marimbar para a imortalidade. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não me lembrar. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De confundir memórias. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De não ter dinheiro. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De que não ter dinheiro seja a principal razão de estar farto. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De estar farto. Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De quase tudo. E do que não estou farto, estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! De ser tão pouco. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De nem ter esse pouco. Estou farto! Estou farto! Estou farto! De me ver escrever tanto para dizer pouco: Estou farto.
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Muito mais poderia, mas farto.
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Cansado, desabafo, que me leiam ou oiçam o que quiserem, é isto:
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Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto! Estou farto!
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Até ao fim do infinito.

A verdade

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A verdade é que a verdade não presta, se prestasse não haveria mentira.

quinta-feira, janeiro 19, 2017

A oficina

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Faço-te amor nas fotos quotidianas, vendo-te nua com a mesma certeza de saber dos sítios nos lugares escondidos. Se abrires a porta, toco-te à campainha.

sexta-feira, janeiro 13, 2017

Hora

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Ando a ouvir relógios. Vem da vida. Vem de mim. Pode ser o despertador do vizinho.

Sexo e cor

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O sexo secretos das coisas. Todas as palavras têm cores. Dos olhos sabe quem.

A vertical vontade de deitar

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Há tempo num armazém de luz uma transcendência uniu o turbilhão quieto dançando sem mexer os pés e os troncos a milímetros sexuavam-se os olhos junto às bocas toda a cumplicidade da música surpreendente.
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Se aí tivesses estado. Teríamos feito amor, duma forma ou doutra.
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Sonhai

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Ainda espero que te dispas ou que vestida me olhes imóvel por três minutos sem descanso. Até lá, sou a miséria e a cara-suja. Como abomino o neo-realismo!
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Nota: E detesto (esteticamente) as obras de Fernando Lopes Graça e de José Gomes Ferreira.

Enxofre, carvão e nitrato de potássio

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Tenho azar aos poemas, nunca medraram beijo.
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O sorriso é lábios e o riso é ânimo ou censura.
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Quem diz beijando fala com os lábios e não com a boca. Acende incêndios, de entusiasmo ou dor.
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Os corpos ardem por centelha dos olhos e a ignição do sorriso.
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Nota: classifiquei esta imagem como pintura. No entanto, não sei se a definição é correcta, pois trata-se de trabalho de manipulação de resíduos de fogo-de-artifício.

Gatofone

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Estou em paz desde que percebi que ser utilizador de Iphone é, mais ou menos, ser servidor de gato.
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O Iphone travado consegue ligar a câmara, a lanterna, o despertador, modo noite, modo voo ou ligar para o gravador após se desligar a chamada.
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O gato é um animal muito inteligente e que faz coisas muito estúpidas.
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Diferenças: os gatos são fofunchos e fazem coisas menos estúpidas do que um Iphone!... e nunca vi um gato acender uma lanterna!

Letra A

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Acordar cedo é tranquilo. Sem problema. O problema de acordar cedo é ser ainda cedo para acordar.

quarta-feira, janeiro 11, 2017

Cadeira-tempestade

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As nuvens são tão fofas apetetecendo como acentos, desejando-as escrevo núvens.

Antes carapaus de escabeche

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A banalidade é uma sopa morna. Óbvia como trágica a sopa fria e a exaltada sopa quente. No enfadonhamento ou com as papilas zangadas não há aromas nem sabores e o cheiro e fome passam.
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A banalidade é vazia. O resfriamento e o escaldamento são fáceis, aos olhos simples são artifícios de vibração elegante ou censura picante.
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A banalidade é uma sopa com legumes infelizes a boiar ou arroz corno-manso ou massa sem erecção.
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A banalidade é uma posta de pescada cozida sem sal.
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A banalidade é o largo da aldeia, onde todos os dias os mesmos bons-dias e a meteorologia.
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A banalidade é confortável como um cobertor de papa no Inverno e a discrepância é um castelo inútil.
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A banalidade tanto serve se dita no preparo dos comeres ou se depois nos equívocos do lado em que se devem pôr os guardanapos.
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A banalidade não está bem com os panos à esquerda ou à direita e contenta-se funcional num efeito de patinho ou de pavão sobre o prato ou à sua frente.
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A banalidade é a solução para se estar bem à mesa sem se saber estar à mesa.
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– Aparte digo que prefiro um arroto bruto para dizer do que o bocejo para dentro de quem descobriu o cabelo despenteado aos quarenta e cinco anos.
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A banalidade é a indiferença que ninguém quer. No entanto, porém e contudo, precavendo sobressaltos, a banalidade é escolher o caminho quieto; há setas, chão-mecânico e, à janela, uma paisagem pré-fabricada engrenada em sentido contrário.
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A banalidade é o elogio fúnebre. Os mortos são ímpares e de Dantas só se sabe por Almada.
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É difícil fazer bem uma sopa. Quanto à média, a única que importa é a Idade.

Letra D


Letra A


Letra S


terça-feira, janeiro 10, 2017

Só isso

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Inspirar ainda morto ainda respira e já morto se ficar. O tal quarto, do alquebramento silencioso de harmonia caótica, onde azul trinchado é horror ao vazio e dormente a tudo. O azul não é cor nem tristeza e contudo, numa excepção, substantivo como melancolia.

Respiração

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O caos em mim invade-me.

Transfusão de qualquer coisa

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O som é centelha e sua sombra ainda que o risco do avião no azul chegue mudo.
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À noite, fosse negro absoluto, na fé, na mágoa, mudo e surdo, em frio ou conforto, tudo qualquer coisa e quem quer que.
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Escondido do arco-íris negro, sem o sentir-saber, abraçando-me na melancolia apática, nada qualquer coisa e querendo não se tem.

sábado, janeiro 07, 2017

Mário Soares – 7 de Dezembro de 1924 – 7 de Janeiro de 2017

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Para dizer verdade, podem muitas ou poucas palavras. A morte não existe e na vida fazemos o devido, o indevido ou nada, sendo nada só nada, o que é ser alguma coisa. Certo de virtudes e sombras, Mário Soares deu-nos muito. O resto que escrevam os historiadores.
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Estou-lhe grato!
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Nota: Escolher Júlio Pomar, para o retratar como presidente da República, diz mais...

Letra P


quinta-feira, janeiro 05, 2017

Chaves

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Em torno não há parede. Provisoriamente eterno, declaração de melancolia e procrastinação, um biombo translúcido por onde vem a luz e a sombra, gente e o ardor dos amores deixando-me.
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Vingo-me numa rebelião, transparento-me  espanco as vírgulas e digo novas palavras, inventadas quase virgens.
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É nudez como a do Napoleão que, de megafone, anuncia o fim do tempo na maior praça da cidade.
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Sou o Inferno, sem escada ou porta de abrir para fora.
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Quanto um sortilégio me alegra sou a tranquilidade sobrevivente da fúria das lâminas e da convulsão do céu e do mar.
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Quando saio nunca me esqueço das chaves.

Letra A


Letras D e M


quarta-feira, janeiro 04, 2017

Quotidiano

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Do alabote faz-se remédio e da pescada a tristeza.

Petróleo

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Quase inteiro de emoção, da tristeza da alegria à mais sincera tristeza. Se azul não é cor, substância doutro mundo, insujável e precioso, água de beber na sede, o negrume é pálido perante o negrum.
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É a isso que me refiro. Quando num silêncio quase mudo ou num ruído eruptivo vejo negro sob a pele ou transbordando. Se os fecho, vem o odor do indizível.
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Não sei se notaram, não quero saber e quase nada me interessa. Na alma o desprendimento próximo franciscano e na carne a vontade de o atingir.
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Neste momento, a cabeça balança pendendo, segura pelo pescoço de ráfia velha, antes pusesse a coragem conseguir pendurar-me íntegro, dizendo a oração de adormecer para acordar o tarde que consiga e onde a tristeza se sepultasse solidária.
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É assim quase inteiro de emoção. Poderia ser paixão feliz, mas paixão é chama triste.

terça-feira, janeiro 03, 2017

Verão

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O Verão é luz, a temperatura é invisível nas fotografias.

Inverno

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Tivessem mil anos seriam os olhos do ano quase choro e toda a melancolia. Por isso as praias cinzentas são infinitas e vêem-se eternas as manhãs vazias. É tudo falso quando parece verdade.

segunda-feira, janeiro 02, 2017

Obituário de quem não morreu

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Pode ser que não valha e pode ser que não me importe e pode ser que nem seja importante.
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É! Um retrato da decadência. Para não me aleijar em esforço, digo a banalidade plebeia da prostituição: Servicinhos a preço de Monsanto, num final de noite em que não se juntou para o sonho e muito menos para a pensão.
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Talvez não preste e o esquecimento seja justo. Uns não podem e outros não querem e outros somam – já lhes disse. Na melhor das hipóteses, pode ser que só não valha a pena, por lastro ou sombra.
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Sem o sal apimentante para encarnecer a índole, a inteligência e a bandeira – tantas vezes lhes contei. Como o corno incompreendente, ou disfarçando saber-se enganado, manso para não zangar.
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É tédio numa neblina. A monotonia da posta de pescada cozida.
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Não tenho analgésicos para esta ressaca nem esquadrinho astrologia conspirativa nem me apoquento com vinganças nem as canções tristes se solidarizam.
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As perguntas irrelevantes, às quais as respostas possam ser tristes, não se fazem. Basta-me o silêncio antigo.
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Importam-me os duzentos escudos pelo servicinho e me são insuficientes.
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Nota: Estive quase para escrever «serviçinho»...