digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

terça-feira, janeiro 28, 2014

Sida

Se pudesse ter fodido com toda a gente que quis ter fodido, a minha sida teria morrido de orgasmos. Como não fodi o suficiente, se tivesse sida teria morrido de vergonha de não ter sida suficiente. Felizmente inventaram a internet e as figuras resguardam-se. E já fodi tanta gaja com sida.

Mercedes

























Sim, nua. Não te consigo ver sem ser nua. Sentada, conversando. Sendo e sendo sempre nua. Nunca objecto, mas mandante do prazer obrigatório que duas pessoas têm de ter quando partilham, no mesmo tempo, lugar e nudez.
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Nudez. A nudez é um conceito estranho. Nascemos nus e nus nos vestem já mortos. Só vivos, com vida, vida suficiente para dar vida ou vida suficiente para se pensar que se pode dar vida, estamos nus.
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Naufragar contigo numa ilha remota tem a graça de algodão-doce. Tocar as mãos nos cinema, em segredo é patético como fingir que se tem um almoço de trabalho numa pizaria.
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Sonho suburbano. Mediocridade que faz acordar enjoado.
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Não te quero mostrar nem que me mostres. Quero tanto que me vejam como não vejam. Quero beijar e amar. Que fiques a fumar enquanto bebo uma cerveja. Ou que vás à casa de banho enquanto acabo com a última garrafa dum gin imprestável.
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O cheiro do sexo. Dum e doutro. Doutronum e doutro e um num sem ser um nem outro. E, claro, suor e sede. Tesão, sim. E o tempo que foge.
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No final, outra queca. Ou então, dormir. Para outra queca. Meter as chaves no Mercedes suburbano, deixar-te a duzentos metros de casa ou deixares-me ao pé da paragem do metro, que nem passa à minha porta ou fazcaminho.
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Descartável prazer em ser descartável e imprescindível.
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No caminho, já sós, dois ou três orgasmos egoístas e aflitos. Com remorsos de não ter remorsos.

Frutas feridas

Descobri que não preciso de estar mal contigo para estar mal comigo. Que Passeio Alegre é um nome tão estúpido como Praça da Alegria. Felizmente que quem inventa toponímia também cria Cemitério dos Prazeres ou Cedofeita. A mim, dá-me tesão foder em Calhabé, Madragoa ou Miragaia.
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Não tem de haver rio. Tem de haver justiça no nome que se dá às coisas ou às coisas que se fazem nas coisas.
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Os rios dão corrimentos românticos? Ordinarice bárbara. As cidades estão cheias de palavras que se lêem meias. Em cada arco, quando as noites ainda escuras... fiz colecção... tentei... poemei... sentir mulher as miúdas que se deixavam tocar, mexer, foder, penetrar...
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Fui feliz quando deixaram. Fui feliz quando se baixaram. Fui feliz quando deixaram. Fui feliz quando conseguimos. Fomos quando ninguém viu.
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Nesse tem, ainda ateu, rezei para que ninguém tivessem visto. Hoje, crente, rezo para que alguém tenha filmado.

domingo, janeiro 26, 2014

Os cravos são vermelhos as rosas são encarnadas e os malmequeres são brancos

Não tenho vergonha de dizer a um amigo que o amo. Digo-lhe baixinho, ao pé de gente, grito no Rossio, digo em família, entre amigos entre quem acabo de conhecer.
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Amar é sublime. Ainda que as dores sejam rios. Da inofensiva nascente, à força da largura, à traiçoeira fundura. Do curso abrupto e rodopio confuso. Da maturidade à foz. À maturidade do oceano.
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Não morrerei se um amigo morrer. Nem morrerei se morrer antes dele. Amá-lo-ei até à inexistência. Esperarei por ele como ele por mim. Mesmo que a vida tenha um fim...
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Perder um amigo, por qualquer coisa, é um bocadinho desexistência, uma mão de nada que se tira ao universo.
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No momento da tristeza, mesmo que só se tenha morrido um bocadinho, sabemos mesmo que gostamos.
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Não há raiva que derrote amor. Nem que passando mil anos.
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Digo com a certeza do ricochete das palavras. Digo com o infinito eco das palavras. Digo com a imortalidade das palavras. Digo com a certeza do arquivo da memória, seus esconderijos, refúgios, lixos, arrumações e cicatrizes. Digo com os bumerangues e os maremotos. Digo abraço, com lágrimas, seco, soluço, , arrependimento, consolo, festa.
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No amor, as pedras são flores. Com e mãos dóceis, campo, jarra, lapela, mundo em qualquer parte. Se atiradas caem. As pedras doem. Se uma flor se tornar pedra, a flor tornará; que sejam precisos mil anos. E as flores são o que se quiser de bem.
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Amo-te e beijo-te, amigo, irmão, pai doutros sangues. 
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Digo com a certeza da gravidade. Com gravidade digo erro. Com a certeza da gravidade digo infinito e já agora. Deus. Amor. Amigo.
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Digo com as flores brancas das palavras amigas. Digo com qualquer cor,que te amo. Do baixinho ao eco. 
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Digo a toda a gente!
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Digo:
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Amo-te, amigo.
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Sem ti não morria, mas desexistia um bocadinho.
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Nota: a V.