digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, maio 30, 2012

Terra

Quero abraçar a Terra. Beijar as árvores. Sorrir aos animais. Comover-me com as pessoas. Quero! Mas não consigo. A vida é uma porra e se a morte existisse não seria merda menor. Voar por aí. Fantasma de mim. A pena e o orgulho. Música para a paixão. Música para o amor. Música para a saudade. Música para tudo. Música para a vida e uma vida para toda a água, lágrimas incluídas. Quero tudo! Mas não posso. A vergonha não me deixa. A Terra tem mais água do que terra. Tenho mais amargura do que amor. Quero, mas não aguento. O que fazer com esta vida? Pois podia, mas não consigo.

Comprimido

A vida é demasiado curta para que não seja passada a dormir.

Normose

Quero uma vida normal, com uma morte no fim.

terça-feira, maio 22, 2012

Hoje bebemos uma cerveja no Estádio

Uma coisa que tenho aprendido a apreciar é a bondade. Não a coerência duma vida ou a verticalidade orgulhosa, mas a bondade. Há pessoas que têm nos olhos a alma sem que por isso sejam uma boa alma. Não me refiro a sentimentalismos, mas a índole. Conheço o João há quase trinta anos e hoje vai a cremar. Não sou o melhor amigo, mas conheço-o e sempre o conheci bom. Não é porque o corpo morreu que ele é bom, mas porque o foi sem nunca se ter feito ver por santo. Lembro-me da frenética calma, que é a forma menos óbvia de não se ter calma. Não lhe conheço má-língua sem ser num lamento. Não me lembro dum lamento sem uma razão. Sempre honesto e íntegro. O João é boa pessoa. Eu, que não sou íntimo, sei do esforço que fez, antes de abandonar o corpo, em tratar dos pais. A sua gesta é prova, no mínimo, de gratidão. O corpo do João queima-se numa máquina, mas a bondade fica com quem o conhece, que só guarda boas memórias.

sexta-feira, maio 18, 2012

Este estado





















Quero um amor abstracto com uma pessoa bidimensional. Quero morrer no acto sensual. Quero pelo Skype os beijos devidos. Mando sms com amassos prometidos. Quero marcar encontros a meio da noite, na febre. Quero adormecer pesado e bêbado. Quero acordar bêbado, mas sem febre, só a febre da excitação. Quero ligar e ser atendido. Quero voz de sono. Quero ligar e não ser atendido, não quero a voz nem o responso. Quero ligar e com medo da aceitação para ter de abrir a porta. Tenho um computador com internet e sítios onde estão de pernas abertas, sonhando-me para que as tome e desapareça com algum desprezo. Mulheres objecto? Pois então. Amor abstracto com pessoa bidimensional.
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Nota: Foto da Modelo MordsithCara aka Chelsea Christian

quinta-feira, maio 17, 2012

Deixem-me o prazer

Cansado dos mesmos hinos. Farto das palavras repetidas. Não é para isso que se fazem revoluções. A revolução sempre é uma não revolução, mas cansa, porque chateia. Há quem tenha encravado nas datas, peço que me deixem viver sem a preocupação de ter de me preocupar. Quero a alienação da beleza e não a comoção do feio. Não será por este copo se não beber que deixa de haver fome no mundo. Não quero os muros da moral, nem de sacristia nem comunista. Quero que me deixem viver, alegre e pobre, com vida de rico.
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Nota: Adoro esta música e José Afonso, estou é farto é dos sacerdotes da democracia e dos guardas do templo revolucionário. Não há paciência para quem ainda apela ao «esganar da burguesia».

sábado, maio 12, 2012

Anda cá antes que nos vamos

Largava-te já se te tivesse agarrado. Fiquei com os beijos prometidos. Não são frigorifáveis nem congeláveis, são demasiado quentes para o frio. Tão quentes que aguentam toda a espera. Mas eu, sôfrego de ti, temo que não durem. Ou que seja eu quem não aguente. Os atrasos matam-me devagar, mas como morro de amor, paixão é coisa que dói, sempre me aliviam a dor e fazem-me desejar-te mais e mais. Ai se te tivesse agarrado… beijava-te agora, e tu, rebelde e libertável, soltar-te-ias para me prenderes e beijares. Devia ter-te agarrado.

O outro

Tenho sono e faço uma birra de sono porque não te deitas a meu lado. Sei que tens outro homem… sei que é mais baixo, fala menos do que eu, sabe menos do que eu… o que vês nele? Um abraço? Uma vontade de comer com mimo? Não sei, vou amuar… e o pior é que também estou apaixonado por esse outro homem.

terça-feira, maio 08, 2012

Rio

Como é doce o teu rio, que é teu corpo, estendido a meu lado e calmo como um lago. Teus braços, braços de rio, abraçam-me como se eu fosse uma rocha e os teus cabelos são pássaros pesqueiros alimentando-se na água. Que bom é acordar no sossego da sombra das árvores e franzir os olhos para felicitar a luz. Dou-te um beijo e tu adormecida sussurras qualquer coisa, mais baixo, infimamente mais baixo que um sussurro, com um sorriso, como se tivesse atirado uma pedra à água para a fazer ricochetear antes de mergulhar. Digo: bom dia meu amor e tu sem sobressalto sorris, correndo o sono como a água de brilhantes. Daqui a nada, quando acordares será o começo do teu dia. O meu vai no meio-dia e já o Sol te grita: bom dia meu amor, acordaste finalmente.

segunda-feira, maio 07, 2012

Dormirei

Abri a janela ao Sol e ao vento. Tirei os lençóis, amacei-os, atirei-os para o chão. Desdobrei os lençóis e fi-los voar e cair certos e direitos na cama. Fiz a cama. Fronhas novas e cheirosas nas almofadas. Dormirei os pesadelos de sempre.

quinta-feira, maio 03, 2012

O futuro





















O futuro não me existe. Nem a seiva quer persistir. Desistir é coragem que me falta. O sono é a minha vida, súplica por clemência. Desvontade de dias por virem. Mais simples o pedido, fechar os olhos. Mergulho no escuro com a única esperança restante, fechar os olhos. Para não ver o futuro que não tenho. Fechar os olhos.

O Primeiro de Maio, o Natal e o Pingo Doce

























Os religiosos do Primeiro de Maio aceitariam a obrigação de celebrar o Natal com consoada e missa do galo?
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Nota: Aquele episódio do fim-do-mundo dos cinquenta por cento de desconto no Pingo Doce foi das coisas mais tristes que vi em Portugal em muitos anos.

quarta-feira, maio 02, 2012

Amor imaginado

























Como posso amar-te se nunca te vi a pele íntima. Se deduzo os seios, especulo os lábios secretos e sua a cor. Que água? Que aroma? Que tal o rosto e a respiração e que fazem as mãos? Como fazem nas costas? Deito-me e sonho, vendo o que acordado sonho. Quendera cumprir o que a mim prometi, e deitado fazer jurar tudo o que se costuma jurar e jurar o que se costuma jurar. Nas juras trocadas não incluir nem a verdade nem a mentira. Como não te amar se desejo desejar-te sempre? Toco-me em memória de querença do teu corpo cor de pele, dos teus seios imaginados e do teu sabor irrevelado matando-me a sede enquanto te como.

terça-feira, maio 01, 2012

Primeiro de Maio a dançar

Deixem os trabalhadores dançar. Para chatices têm todos os outros dias. Profissionais do protesto, desportistas das marchas de palavras de ordem, membros do Grupo Recreativo Sempre em Festa e demais aborrecedores desamparem-me o bairro. Vão dançar.