digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

sexta-feira, março 25, 2011

Jura

Se tudo tem um começo, que o começo seja aqui. Agora, no momento em que de olhos postos no outro dizemos, de olhos fixos, sem olhar os lábios, mas sabendo-os quase a sorrir de solenidade, que é importante começar. De olhos frente a frente e hálito a tocar no hálito, promessas de gente madura, a imponência em que os momentos sem importância ficam grandes. Só a imaturidade condena a imaturidade, como os arrogantes culpam a simplicidade. Que seja aqui a fonte de tudo o que está por diante. Prometo e exijo garantia de que as palavras sejam precisas e se leiam em letra e não em espírito. Granito é granito e o coração uma outra coisa. As palavras são prova se de chumbo ou de sólida consistência. Frente a frente, palavras de hálito a hálito. As juras de amor são rendilhados de pedra, luz de consolo no Inverno, luz de vitral no Verão, palavras sérias de conversa mole. Que comece assim a proclamação do meu amor, com sujeito e vontade. Faço tudo o que se espera, deve, promete, deseja e sonha. Faço tudo! Pelas regras e fora delas. Porque sim, porque é o destino. Faço tudo! Quero já, só não tenho quem.

quinta-feira, março 24, 2011

Aniversário





















O Infotocopiável fez cinco anos… desta vez esqueci-me completamente. Para que a data não passe sem ser assinalada, o texto de aniversário será publicado a 16 de Maio.

domingo, março 20, 2011

Um dia

Bordando o tempo com o carinho das mães, pousa a atenção na memória dos dias felizes. Enternece-se de olhos em lago, donde escorregam rios.
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Os anos passam e as pessoas ficam e esse ficar diminui com o adiantamento dos dias. Que partissem logo duma vez, os dias e as pessoas, para que a dor da falta se não sentisse nem a velhice aleijasse.
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Para que serve viver, quando a morte é uma certeza? Porque a saudade é um punhal. O sorriso das mães inunda o rosto.
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Por que partem as mães e ficam os filhos? Porque sobrevivem as mães a seus filhos? Que a minha nunca parta nem eu me vá.
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O amor é eterno e o que dói é não ver. Sim, porque há a fronteira, fina e impalpável, onde se passa dum para outro lado. Espera-se por cá o momento de ir e lá o de voltar. Assim deve ser. Assim deveria ser.
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O amor é eterno como a vida. Ainda nessa certeza, os olhos das mães fazem-se rios pensando em todos os dias dos filhos. Por que morrem as mães? Por que morrem os filhos?
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A natureza da morte é natural, e a naturalidade da morte é a dor. Para quê morrer se o nosso destino é viver?

sábado, março 12, 2011

Pena de morte

Devia haver morte para poder haver pena de morte. Devia não haver morte para, em consciência, mandar alguém para a morte. Devia haver morte, como um saco, para meter toda a gente que se quer ver morta.
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Devia haver vida para que todos os dias fossem felizes. Que as rosas das videiras nunca se cansassem de oídio e que todos os males do mundo fossem esses. Que o vinho nunca azedasse.
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Só pode haver vida, porque a vida tem de ser pesada para que um dia a possamos saborear leve. E que as rosas cheirem a rosas e o moscatel novo também. Que haja essa certeza para alimentar os dias de chuva.
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Os dias de chuva não matam e mostram a vida como quem tem certeza da morte. E numa graça de desafiar o fim dos dias rir de tudo o que é efémero e brindar com um vinho eterno. O que o momento seja vitalício. Do momento antes de nascer ao dia depois de morrer.