digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quarta-feira, outubro 31, 2007

Sala de barbaridade

A indefinível linha. A que prende um cão a duas paredes. Todos os sentimentos dum quadrúpede esbugalhados pela fome e abandono. A barbaridade não é justificação para a barbaridade. A barbaridade não um farol a iluminar os lados negros dos homens. A morte não é grito de socorro para a morte.

A linha que prende um cão a duas paredes é uma maldade concreta. A arte não tem de ser bela esó tem a vida como limite. A indiferença não desculpa a maldade. O animal faminto a pouca distância do letreiro desenhado com comida para cão.

Diz o bárbaro criador que ninguém na sala de exposições manifestou indignação, soltou o cão ou o alimentou. A maldade devia romper a indiferença.

Ainda que tenha só desaparecido. Ainda que seja verdade. A dignidade da vida não é para uma montra de arrogância. Ainda que tenha só desaparecido. A fome e o desamor não são

O bárbaro, a arte e todos nós. Há um só limite para a arte: a vida. A verdade absoluta. Não a discuto nem desculpo.






sexta-feira, outubro 26, 2007

A casa


A mãe, o pai e a casa. A infância. A confusão dos dias longos, a insaciável insegurança. As madrugadas lilases. Os entardeceres negros.
Quero outra vez os teus braços e colo. Os teus silêncios. A nossa cumplicidade. O Natal.
A avó. O pai. Os tios. Os manos. O sistema solar. As manhãs curtas. O longo dia de Natal. O fim do Natal.
O verde das paredes e a luz espigada do quarto. A infância. A adolescência. Os segredos.
Quero outra vez os abraços a três. Havia os teus silêncios. A comoção. A dor. O terror. Havia os teus silêncios.
Não quero mais. Lembro-me. Não quero mais. Quero os teus abraços. Havia cumplicidade. Os dias longos e as noites de Inverno.
O modelo. A comoção. A dor. O terros. Os teus silêncios.



Versão para dançar dos Booka Shade.
Sou mesmo parvo! A minha boca diz tanta asneira que parece a Cahora Bassa do disparate.

A verdade sobre a palavra matemática






















Se a matemática fosse uma coisa boa, não seria má temática.

Nota: Tenho um trauma desde o liceu.

quarta-feira, outubro 24, 2007

Desgaste

As traças, a água e o tempo tratam-nos do materialismo culto e artístico. Não sei se são agentes bárbaros ou sinais da superioridade que nos ajudam a relativizar a vida.

Redoma

Não quero uma vida, mas uma redoma. A vida está cheia de animais a comerem-se uns aos outros.

sexta-feira, outubro 12, 2007

Caminho

O caminho em festa fica menor. Uma festa a caminho fica menor. Festa é ficar e caminho significa ir. Saber onde se põem os pés e onde se deixa ficar. Não saber o fim é a festa. Saber o fim é o caminho. Não saber o fim do caminho é festa.

Festa

Poderia ser água. Poderia ser luz. Não poderia haver chuva. Festa é junto ao limite. Não se sabe onde está o limite.
Poderia ser luz. Era luz. Não era água... poderia ser água desde que não fosse chuva.
Teria de haver música? Teria de haver um limite para que fosse festa.
- O que há além da festa?
- Negro!
Teria de haver Sol, teria. Poderia ser luz. Poderia ser noite. Poderia ser água. Teria de haver um desregramento e um limite.
-

quinta-feira, outubro 11, 2007

Arrumos

Há um texto novo para ler aqui ao lado... n'o cavalo de dom josé.

A minha vida pela dum gato

Tenho uma mínima ideia. Tenho a vida toda por diante para fazer caso dela. Agora não tenciono de saber ou me lembrar dela. Fico satisfeito por saber que tenho uma mínima ideia e que, provavelmente, nunca lhe darei importância.

segunda-feira, outubro 08, 2007

Três ou quatro dias

Três a quatro dias depois estou no mesmo lugar. Três a quatro dias depois fui e voltei. Três a quatro dias depois abalei para não voltar. Três a quatro dias depois. Que sejam uns dias quaisquer e ninguém dê por isso.
Três a quatro dias depois estou no mesmo local. Três a quatro dias depois e já fui e voltei. Três a quatro dias depois fui e não voltei.

Há-de passar

Este dia há-de passar, ainda que eu fique um dia mais velho. Sinceramente, não sei se estou vivo ou se tenho apenas uma miragem diante.
Ali há uma porta para aqui e na parede está uma janela, uma nesga de vidro e madeira aos quadradinho, apenas duas fileira, que deixa passar a luz para a noite neste ermo. Não fosse o vento e diria que já não vivo.
Que vida haverá atrás da janela dali que dá para aqui? Quem lá vive e que palavras se dizem? A parede visível da casa mostra-se envelhecida, esburacada, desfazendo-se continuadamente. Aquela luz é um vislumbre do Natal.
É a luz da esperança e do calor ténue. É luz da solidão. Tal e qual a luz do Natal. E Outubro não chegou a meio. A parede frágil trava o vento e a luz fraca combate a escuridão. Há uma porta dali para aqui. Quem a quer passar? Quem a atravessa para este ermo? Digo que os degraus não servem para vir, porque ninguém dali vem para aqui.
Vou para outro lado qualquer, porque aqui só há noite e uma visão precoce do Natal. Como me sinto só!... Este dia há-de passar, ainda que eu fique um dia mais velho.