digo e o oposto, constantemente volúvel, às vezes verdade. juro pela minha alma, mais do que vinho amo a água e só me desenseda e lava, a cara, o corpo e a vergonha de ser quem não quero. os sonhos antigos são sonhos e antigos e os novos de esperar, é esta a vida a mim agarrada, se esperança existe.

quinta-feira, setembro 27, 2007

Como és bela

És um tornado de beleza. Volta e volta e faz-me rodopiar a cabeça por êxtase e por te ver passar ou ficar.
Quando páras és movimento estático e deleite de todos os olhos. És um tornado de beleza. A minha paixão vai e volta.

A mudança desejada

É altura de todos os desassossegos. As ruas têm gente e pela porta da frente quero fazer passar a minha intimidade. Não é a minha vida, mas a minha intimidade. A rua próxima conhecerá um pequeno alvoroço pelo impacto da passagem dela que, de tão pequenina e banal, a revelação só incomoda a mim.

terça-feira, setembro 25, 2007

Depressão

A tristeza absoluta é uma única visão duma imagem parada. O único desejo é o de ida por não mais se saber ficar. A derradeira esperança é um caminho proibido. A cura não é uma festa, mas uma arrumação.

Despertar

É demasiado tarde para me levantar cedo. Fazem-me falta todos os minutos em que não estou em mim.

Amor de gato

As minhas gatas não sabem ladrar, mas são mais fiéis do que quase toda a gente. Dizem tudo o que querem e tudo deixam dizer, sem remorsos nem rancores.

Angelitude

- Se os anjos são de espírito e vivem nos Céus, para que têm as pernas?
- E o que têm eles no lugar do sexo?

Casa

A casa nova é um local de esperança ou de resignação. A casa velha é de tristeza ou nostalgia.

sexta-feira, setembro 21, 2007

Nascimento de tudo

Por Deus ser pai e mãe não quer dizer que seja hermafrodita ou tenha tido dores de parto.

Simples e oposto

A leviandade e a facilidade é que permitem resultados complicados.

Efeméride

No fundo do mar está um navio em pedaços e, junto dele, uma placa a lembrar o seu naufrágio... até que a água e o tempo os juntem num mesmo esquecimento.

Dúvida de morte

Na inexistência de nascimento, será que se festeja o aniversário do homicídio do não-nascido?

Mau





















Que importa se é difícil se o resultado é mau? Mas nem todos têm de conhecer a verdade.

Nota: Este texto não tem nada a ver com a personagem de Frankenstein ou com o romance de Mary Shelley.

Vida alguma


























Tenta lembrar-te que nunca existi.

Vida completa

Mais do que viver, gosto de respirar.

Azul, azul, azul

Agora é o azul que me cerca e o negro que me enfrenta. Antes era o negro a envolver-me e nenhuma esperança pela frente. Não haverá maneira de não haver escuridão. Não há luz sem que a sombra se levante.

Azul, azul

Azul baixinho é aquele que ronda os olhos. Não tão escuro como o prussiano nem tão claro quanto o que se vê perto do Sol.

Azul

Se estou azul é porque estou azul. Se não estou azul é porque estou azul. O que vai dentro não é o olhar dos outros e azul pode ser muita coisa.

segunda-feira, setembro 17, 2007

Pequeno delito

Sou um pequeno delito: Não me prendo nem quero prender-me a ninguém. Só seguro, porque só sei segurar e não quero ir além donde vou para me queixar de não ir a lado algum. Não raras vezes, estou onde não estou e só quero ir onde não estou.
Não me prendo, só incómodo. Ninguém me quer preso nem sequer perseguido. Sou três pontos alinhados, uma reticência, um homem sem ciência. Por tudo o que sou, não quer ser mais do que sou. Para quê? Sou um leve incómodo, um pequeno delito.

Nota: Sim, tomei uma ideia emprestada ao António Variações.

Estranheza

A minha vida tem um farol que não mexe. Não é cego, mas também não ilumina além de mim. A minha solidão é um excesso: da ausência do outro e da presença de mim.

Vidas, mortes e outros sentimentos

Tenho sempre mais saudades à noite, ao deitar, do que pela manhã, porque a noite é uma viagem.

sexta-feira, setembro 14, 2007

365 dias de luz - primeiro tempo

Não acredito no cinzento puro. Antes houvesse, antes houvesse… Entre toda a luz que gera toda a cor e a ausência absoluta que tudo absorve, não há lugar nem vida. Não acredito no cinzento puro! Vejo o castanho cor de sangue, até ao azul e todas as cores. Onde cabe o cinzento? Algures entre o negrum e a alvura. Em todo o lado unido a todos os tons do branco e à tristeza dos negros.

Nota: Exposição para ver no Monumental, em Lisboa.

365 dias de luz - segundo tempo

Há infância e Outono. No aconchego dos dias tristes há a prisão na luz: a luz medrosa e o frio a entrar pela carne. A esperança dos dias longos tem de esperar quase um ano, enquanto os olhos se maravilham nos passos entre a brisa e o céu variado. Há a infância e o Outono, muitos dias no tempo duma respiração. Na tarde, saudades da luz de Verão. Depois do estio não há regresso, ainda que as estações tornem. O Outono, depois de chegar, não parte.

Nota: Exposição para ver no Monumental, em Lisboa.

365 dias de luz - terceiro tempo

Se voltassem os dias para trás… se voltassem os dias para trás era domingo e o Sol na casa e o Sol no rio seria Sol na vida. Uma sombra feliz frente à casa, um leito de troncos quente para o lume em que nos deitamos no Inverno. Por agora só a felicidade da luz importa. A estrada da manhã leva ao lugar do futuro, ao sítio onde a vida se aproxima da serenidade. Agora é Verão e até ao Outono vai uma noite de sono bem dormido e felicidades corridas.

Nota: Exposição para ver no Monumental, em Lisboa.

365 dias de luz - quarto tempo

Açoteia e mar. O terraço debruçado sobre todos os azuis: a sombra dos dias quentes e seu refresco. Sob as árvores, o repouso frente às paredes de luz. Dias longos, dias da calma toda. Se a manhã se levantar húmida haverá insectos e cantos de pássaros… será a Primavera. Se o dia for soalheiro, não sei. Não sei o que se pode fazer num dia soalheiro… tanta coisa. Quando acabarem os dias felizes, voltará o Outono e a nostalgia dos momentos indecisos e infantis.

Nota: Exposição para ver no Monumental, em Lisboa.

domingo, setembro 09, 2007

Ai ai, a minha cabeça

Com as mãos toco no divino, com as mãos toco na mundanidade. Se uma poderia limpar a outra, terei sempre de as lavar, porque os meus pensamentos são sujos.